Supermercados: como funciona a Cadeia de Abastecimento no Setor Varejista do Brasil?

“Os preços subiram durante a pandemia. Os donos dos supermercados são insensíveis e estão se aproveitando do momento”.
Quem nunca ouviu algo desse tipo? Nos grupos de WhatsApp são mensagens e mais mensagens compartilhadas de pessoas revoltadas com os preços praticados por alguns supermercados. De fato, alguns produtos subiram na gôndola. Mas será que os supermercadistas são os únicos culpados por isso?

Os supermercados apenas refletem na gôndola as ações dos outros elos da corrente

E com isso não estou dizendo que não hajam oportunidades. Tem sim e muitos, como em qualquer setor. Mas na grande maioria dos casos, os supermercados apenas refletem na gôndola uma sucessão de eventos que vão acontecendo ao longo de uma complexa cadeia de abastecimento, que nasce lá na indústria e termina na prateleira das lojas.
Para começar, mesmo produtos produzidos no Brasil sofrem impactos quando o dólar sobe. No dia 01/03 a cotação do dólar comercial estava em 4,49. Hoje, dia 21/05 quando escrevo esse texto, a cotação do dólar comercial está em 5,82, uma expressiva alta de 22,85%. Essa alta no dólar reflete diretamente em insumos para produção de itens, na manutenção e aquisição de algumas máquinas e, até mesmo, no preço de custo e venda de alguns produtos, como o açúcar, por exemplo, que tem seu valor indexado em dólar por ser negociado em bolsas internacionais.

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Fatores externos também influenciam na cadeia de abastecimento

 

Só que o dólar é apenas o primeiro fator. Se ele oscila, automaticamente o preço de custo como um todo oscila. Então imaginem um cenário onde a margem líquida praticada por uma empresa é de 30%. Uma coisa é a margem de 30% incidir sobre um produto de 1,00. Outra coisa é incidir sobre um produto de 1,23. Automaticamente o preço de venda sobe. Da mesma forma sobem os impostos e acabam por subir também os valores do frete que, em sua grande maioria, são calculados a partir de um percentual do total da Nota Fiscal.
Neste momento o preço de custo, o preço de venda e o frete já atualizaram o preço de custo do supermercado. A situação poderia ser pior se esse produto passasse por um distribuidor pois teríamos um elo a mais da cadeia para computar o aumento dos preços. Mas vamos simplesmente excluir o distribuidor e vamos imaginar um cenário do supermercadista comprando direto da indústria.

Os supermercados sentem diretamente em seus faturamentos

Ao receber essa mercadoria reajustada o que o supermercadista faz: aplica uma margem de lucro em cima do valor de compra. Em uma parte do mix normalmente quem manda na margem é o preço de mercado (isso normalmente acontece com os produtos de alto giro, como os que compõe a cesta básica). Se todos recebem a mercadoria mais caro, obviamente todos irão subir. Porém, a maior parcela dos itens (mais de 90% do mix total de produtos) tem o preço de venda indexado pelo valor de entrada da Nota Fiscal. Ou seja: recebeu mais caro, aplica a margem e, claro, vende mais caro.
O Supermercadista é obrigado a fazer isso pois a margem líquida dentro de um supermercado é muito pequena, variando entre 3 e 6%. O custo operacional do supermercado é muito alto e existem diversos custos indiretos, que muitas vezes não são enxergados pela população, que colaboram para tornar o ganho de rentabilidade nos centavos essencial para um supermercado se manter de pé. Apenas para que se tenha uma ideia, a perda média no setor de horti fruti é demais de 30% e quem fica com esse ônus é o supermercadista. Outro exemplo: já pararam para pensar o tamanho do investimento feito pelos supermercadistas para adaptar as lojas para atendimento ao público durante a pandemia? Quanto o custo com limpeza subiu? A venda aumentou? Para a grande maioria sim.

É importante fazer um pouco de caixa agora

Mas virá acompanhada em breve de uma recessão econômica que vai derrubar o tíquete médio das compras absurdamente. Sairá do carrinho do brasileiro a carne de primeira e entrará a carne de segunda e por aí vai. É importante fazer um pouco de caixa agora para suportar tempos difíceis que virão em breve e assim não mandar gente embora.

Os supermercados não são os vilões dessa História

Por esses motivos é importante ter em mente que aquele supermercado em que você está acostumado a comprar sempre não é o vilão aproveitador que a mídia muitas vezes gosta de vender. É claro que ficar de olho em abusos é importante mas, tendo em mente como funciona a cadeia de abastecimento no Brasil, esperamos mostrar que nem tudo aquilo que parece é, de fato, a verdade absoluta sobre uma determinada coisa.
By Vitor Peixoto – Gerente do Comercial e Marketing
Att:
Equipe Logus Retail

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